sexta-feira, 18 de novembro de 2016

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Boa noite críticas e críticos,

Essa semana temos a Paula Morgado como convidada. Vocês estão em excelentes mãos de uma super amiga nossa, e super fã da escrita de JK Rowling. 


Poster com a imagem do livro. Fonte: falandoliteraturas


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Leitores,

A Ana Carol do Crítica Tripla me convidou e eu resolvi aceitar o desafio de fazer uma crítica sobre um dos livros mais aguardados do ano, “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”. Ressalto desde logo que a referida crítica contém spoilers, então, se vocês não querem saber o que acontece antes de ler o livro, NÃO CONTINUE!


Imagem da peça. Fonte: harrypottertheplay.


Como todos vocês sabem, esse ano estreou em Londres, no Palace Theatre, uma peça de teatro  baseada no mundo de Harry Potter. Eu digo baseada não apenas porque a história visa dar uma sequência aos acontecimentos que encerraram o ultimo livro da série Harry Potter, Harry Potter e as Relíquias da Morte, mas também porque o roteiro da peça não é obra da própria J.K.Rowling, mas sim de John Tiffany e Jack Thorne, que, após uma ideia inicial apresentaram o mesmo para a escritora, que aprovou e fez algumas mudanças pontuais no roteiro. E, isso, como veremos, me parece crucial para os problemas que o roteiro (transformado em livro) enfrenta.

Vou trabalhar com três critérios de nota:
(1) Enredo –5,0
(2) Personagens – 3,0
(3) Preço do livro – 2,0


(1) Enredo – Nota 3,0/5,0


Já comecei metendo o malho né? Hahahaha. Mas é que realmente, antes de o livro ser traduzido pro Português eu já tinha ouvido falar que o livro não era tãooo bom quanto as pessoas estavam esperando. Confesso que já fui preparada para o pior (embora tenha me recusado a ler spoilers sobre a peça). E, infelizmente, em alguma medida a decepção se confirmou.


JK Rowling entre os roteiristas Jack Throne e John Tiffany. Fonte: palhansen.


Primeiramente, é importante ressaltar que o livro é unicamente a transcrição do roteiro da peça. Logo, ele é composto basicamente da fala dos personagens. Não temos toda uma construção narrativa, a descrição do ambiente é quase nula. Isso, claro, torna o livro menos “mágico” de ler, até porque essa é uma parte muito importante dos livros da J.K.Rowling. Mas nada que comprometa a vontade de terminar logo o livro para saber o que vai acontecer.

O enredo tem sim pontos positivos: a peça faz o tempo todo menções a varias passagens dos livros do Harry Potter. Apesar do destaque grande dado ao Cálice de Fogo, por trazer em vários momentos o Torneio Tribuxo e a morte de Cedrico à tona, o livro traz Vira-Tempo (Prisioneiro de Azkaban); traz Poção Polissuco e Murta-Que-Geme (Câmara Secreta); traz invasão ao Ministério (Ordem da Fênix); Godric´s Hollow e morte de Snape (Relíquias da Morte), traz os sonhos com Voldemort, que tanto permearam o Enigma do Príncipe. Enfim, a todo momento, vem à tona essas imagens na cabeça, e pros fãs de HP, é um encanto.  A valorização da amizade e do amor acima de tudo também sempre foi um foco dos livros, que estão claramente na peça. A decisão interessante de trocar a personalidade dos filhos de Harry e Draco, embora batida, funciona bem na dupla de amigos Alvo e Escórpio. A volta no tempo, embora seja pra lá de comum em filmes, eu curti, porque eu já gosto mesmo desse tipo de enredo hahahah, e perdoo totalmente o roteiro por isso XD.


Scorpio Malfoy (ator Anthony Boyle) and Albus Severus Potter (ator Sam Clemmett). Fonte: buzzfeed.


Agora, hora de falar das ruindades do livro: os problemas começam principalmente no segundo ato, que tem várias pontas soltas e mal amarradas:

- o mistério do vilão da trama: Sério, o surgimento da vilão é meio forçado, mas nada se compara a explicação ilógica de sua origem. Ou alguém que tenha acompanhado HP até aqui realmente acha plausível que Voldemort tenha tido uma filha com Bellatrix, se em vários momentos do livro somos levados a crer que Tio Voldie nem tem mais humanidade pra morrer? Embora comum nas fanfics, esse casal Bellatrix e Voldemort  não faz sentido algum, e, nem tem qualquer embasamento crível, porque a explicação no roteiro é beeem rasa. Os autores claramente tentaram um clichê comum em filmes (quem não lembra de Star Wars? E de Rei Leão 2? Filhos que voltam pra vingar pais). Mas definitivamente aqui não funcionou. Forçação de barra total!
-  a história do vira-tempo: Outra falha absurda no roteiro. O vira-tempo surge sem uma explicação plausível e termina também sem uma. O que foi aquela fala do Draco pro Harry tentando explicar a origem do objeto?! Mal feita! Eu já reli aquilo umas 100 vezes e até hoje não entendi direito. Definitivamente, outro furo bizarro.
- Por fim, algo que eu nem acho que seja propriamente um furo, mas que, por gosto pessoal, me incomoda muito: essa figura do filho revoltado sem um motivo justo contra o pai. O que faz Alvo não gostar do pai? Ele ser famoso? Ter salvado o mundo? Filhos rebeldes sem justa causa, sejam na vida real ou na ficção, não conquistam nem um pouco minha simpatia. Pra mim, esse viés do Alvo Severo só fez eu ficar com uma raiva danada dele.


(2) Personagens – 2,5/3,0


 Foto com o elenco da peça. Fonte: Mirror.


No que toca aos personagens, eu até que não tenho grandes desgostos. Você, claramente, consegue ver o mundo da Harry Potter ali. A essência dos personagens está presente: a Hermione inteligente, e que ajuda os amigos; o Rony sem noção; O Harry Potter perdido e meio irritadiço (quem consegue ler os diálogos e não lembrar do Harry Potter puto com geral no livro da Ordem da Fênix, chegando muitas vezes a querer machucar as pessoas com suas palavras?!); o Malfoy meio pedante; A Gina corajosa. Está ali, inegavelmente. E isso é ótimo!

Agora, no que se refere aos novos personagens da trama, que seriam o grande fio condutor da história, nós temos foco em basicamente dois: Alvo Severo e Escórpio. Como já expressei, o Alvo me irritou muito, porque traz aquela figura do filho que rejeita o pai sem um motivo razoável. Aquele que quer fazer e acontecer pra aparecer #chato. No entanto, Escórpio é sim o GRANDE NOME do livro. Personagem sarcástico, essencialmente bom, e muito divertido. Definitivamente, dá gosto de ler o livro por causa dele. Outra personagem essencial, a vilã Delfi, é razoável e não compromete a qualidade do livro: a obsessão por conhecer o pai, a forma usada pra enganar os mocinhos, tem muito de mundo HP ali, embora a explicação pra sua origem tenha sido tão ruim, como já ressaltei.


Imagem da peça. Fonte: Time.


No entanto, duas coisas me chamaram muito a atenção negativamente aqui: o abandono completo do livro dos outros filhos do Harry (Tiago e Lilian), que só são mencionados no início da peça e depois completamente esquecidos, como se o desaparecimento do irmão não os afetasse diretamente...(cadê a cena da Gina e/ou do Harry prometendo aos outros filhos que iria(m) achá-lo??? Pois é! Nada disso). Outra foi o fato de que nos livros não falam nada do outro filho do Rony e da Hermione, Hugo. Ignorados total!


(3) Preço do livro – 1,5/2,0


Imagem-símbolo da peça e da capa do livro. Fonte: Pottermore.


Os livros no Brasil são sempre um pouco caros. O valor da edição sem capa dura, eu comprei por R$50,00. O que até estaria dentro da faixa dos valores de livros de HP. No entanto, embora o livro tenha mais de 300 páginas, vale ressaltar que ele é roteiro, então é composto basicamente por falas. 50 reais me pareceu um pouquinho alto pro tamanho real do livro.


A cima os atores da peça e abaixo os atores dos filmes que interpretam o icônico trio Rony Weasley, Hermione Granger e Harry Potter. Fonte: hypun.


Nota final: 7,0. Como disse, é um livro bom, tem seus pontos altos, mas algumas falhas desleixadas. Me parece que John Tiffany e Jack Thorne não conseguiram alcançar a mesma maestria que JK desenvolveu sozinha em seus livros.

Espero que vocês tenham gostado da crítica! :*

 - Paula Morgado.


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